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domingo, 23 de março de 2008

Breve História da Apologia Cristã e seu deserviço a humanidade

A apologia cristã é um ramo que começou bem cedo. Podemos percebê-la nas próprias páginas dos evangelhos, nas controvérsias entre Jesus e os judeus que mais refletem os debates do cristianismo posterior, e principalmente nos relatos do Túmulo Vazio, em que os evangelistas se esforçaram ao máximo para demonstrar que Jesus realmente havia morrido, sepultado e que o corpo havia desaparecido.

Como afirma Vermes (2006, p. 208), os evangelistas estavam tentando reforçar a confiabilidade da ressurreição de Jesus, originalmente atestada unicamente pelos relatos de Aparições, mediante um desenvolvimento criativo, teológico e apologético da narrativa do Túmulo Vazio criado por Marcos, que partia de um “desvario” de mulheres em pânico e da ausência de qualquer relato onde Jesus aparecia ressuscitado. Os demais evangelistas prontamente cuidaram de aperfeiçoar o relato, com o fim de dirimir tal medíocre quadro da ressurreição de seu salvador. Desse modo, criaram relatos de testemunhos de primeira mão, declaração por homens dignos de confiança, de que viram Jesus vivo, fazendo de tudo para refutar possíveis “explicações alternativas”, oriunda da boca de judeus e outros oponentes, tais como: O roubo do corpo de Jesus; O reenterro do corpo de Jesus; A “síncope” de Jesus; O túmulo errado, visões e aparições do fantasma de Jesus, etc.

De fato, somente após a cristalização de tais romances históricos foi que a apologia cristã, agora possuindo os livros que mais tarde comporiam o Novo Testamento, iria se concentrar em combater outras idéias, como o gnosticismo, o docetismo, etc., inclusive as heresias que se formavam a partir da própria leitura dos textos neotestamentários.

Desse modo, o Concílio de Nicéia decidiu que Jesus Cristo era Deus, terceiro membro da Trindade Santa, alem de outras peculiaridades teológicas bastante distantes do homem de Nazaré. De fato, se os evangelhos canônicos tivessem sido escritos nessa época, não deixariam de existir relatos em que o próprio Jesus diria: “Sou o terceiro membro da Trindade”.
Foi somente no século XX que a apologia cristã ganhou um novo formato: mais do que rebater objeções, este ramo de atividade cristão começou a almejar uma posição de tamanha grandeza no mundo laico, de modo que suas disciplinas cristãs, como e principalmente o criacionismo ganhasse status de ciência e que os principais artigos de fé não somente fossem vistos como verdade absoluta como eram na Idade Medieval, mas como verdades científicas colocadas lado-a-lado com os demais fatos científicos estabelecidos pela Física, Matemática, Qímica e Biologia. Era a saída do cristianismo do âmbito religioso e sua penetração no mundo laico científico, como já havia feito com a filosofia, na Idade Média.

A pretensão da apologética cristã atingiu seu ápice quando um grupo de “estudiosos” cristãos descobriram que, mediante certo tipo de argumentação, poderiam enquadrar a fé cristã em uma outra ciência tão sedutora quanto as demais: a História.

Como o cristianismo, tal como o judaísmo e o islamismo, se caracteriza como uma religião histórica, cujos fatos que narram seus livros sagrados supostamente aconteceram dentro da história, ao invés de um mundo supraterreno, começou-se a corrida em busca de evidencias para a historicidade de toda a Bíblia.

O arqueólogo cristão W. F. Albrigth foi o mais destacado estudioso a enquadrar os relatos bíblicos dentro da História. Baseado no pressuposto de que a bíblia era a “Palavra de Deus” e que por isso tudo o que fora escrito nela eram fatos, este historiador empreendeu uma batalha intensa com artefatos antigos no objetivo de interpretar as descobertas arqueológicas de acordo com a bíblia. Esse ato “tendencioso” deu ímpeto incrível aos religiosos, que viam nisso mais que uma mera curiosidade: viam a história e a arqueologia “provando” o que a Palavra de Deus já dizia. Foi somente no final do século XX que outros arqueólogos e pesquisadores denunciaram os erros e tendências de Albrigth, exorcizando do mundo acadêmico os demônios do que se chamava “arqueologia bíblica”, cuja tendência era interpretar a história de acordo com a bíblia. No entanto, ao contrário de Albrigth, que havia influenciado não apenas o mundo religioso, mas também o mundo acadêmico, as novas pesquisas arqueológicas que colocaram em xeque a interpretação de Albrigth dificilmente foram assimiladas pelo público em geral. E quando percebidas, logo são rotuladas como tentativas “anti-cristãs” de criar polêmicas jornalísticas.
Albrigth foi o principal responsável pela mentalidade predominante nas igrejas cristãs de que a bíblica é, comprovadamente pela história e arqueologia, a verdade absoluta. Além de se tornar a pedra-base do mito da “Inerrância, ou Infabilidade Bíblica”, essa visão da ciência e da história se tornou característica principal do homem-cristão comum dessa primeira década do século XXI. Poucos são os cristãos que se recusam a aceitar essa visão perfeccionista e absolutista das Escrituras, sendo que poucos são os cristãos que se interessam e/ou tem acesso a recente pesquisa histórica.

As editoras cristãs também ajudam a perpetuar esse mito moderno. A tendência das editoras cristãs é somente publicar livros que “edifiquem”, ou seja, livros que comprovem que o Cristianismo é o certo. Também publicam livros religiosos mascarados de científicos, pois sabem que estes possuem muita saída no meio evangélico das igrejas tanto protestantes quanto católicas.

Desse modo, as editoras cristãs (principalmente as evangélicas/protetantes) selecionam os livros a serem publicados, de modo que não importa a qualidade e atualidade do conteúdo: se o livro “estiver de acordo com a Palavra de Deus” ele será publicado e disseminado entre o público crente.

Os cristãos da atualidade se vangloriam não mais pelo fato de possuírem uma “fé que move montangas”, mas pelo mito de que fazem parte da única religião do mundo inteira que foi comprovada pelas ciências como absolutamente verdadeira, citando, de forma orgulhosa e arrogante, as “descobertas arqueológicas” (sem falar das “científicas”) que supostamente comprovam os relatos da bíblia.

O pior mesmo é que, além desse tipo de coisa incentivar a ignorância e irracionalidade evangélica, viciam a mentalidade crente em direção a essa suposta verdade absoluta da bíblica, e isso ocasiona outras repercussões sociais piores, como a crença na superioridade intelectual cristã acima do âmbito leigo de pesquisa, de forma que prejudica o trabalho acadêmico de tal modo que diversos professores universitários prejudicam o ensino quando pregam as supostas verdades bíblicas e a superioridade cristã na sala-de-aula.

De fato, houve tentativas de se colocar o criacionismo dentro da sala-de-aula, ensinada nos livros de Biologia, de modo que não me surpreendia se esses mesmos cristãos quisessem colocar a ressurreição de Jesus no currículo escolar, alegando que “o fato mais testificado da História” devesse ser incluído nos livros didáticos de História e ensinada na sala-de-aula.
Por enquanto, os cristãos vêm conseguindo convencer e converter universitários acerca da “verdade” da religião cristã, não mais com aqueles apelos emocionais clássicos do cristianismo, mas através uma suposta base “racional” e “científica” adaptada a realidade acadêmica e bastante sedutora.

A forma mais destacada de se fazer isso vem sendo através de um corpo de argumentos construídos, chamados de “Evidencias da Ressurreição de Cristo”.

De fato, a importância da Ressurreição de Cristo para a fé cristã no mundo moderno não deve ser menosprezada, sendo que, repetindo as palavras de Paulo, constitui todo o alicerce da fé.
O mais destacado apologeta cristão a enfatizar a ressurreição de Jesus como fato histórico foi Josh McDowell. Suas publicações constituem toda a base teórica dos apologetas contemporâneos e o material mais popularizado no meio cristão sobre o assunto.

Bem atrás de McDowell, ou bem na sua frente, destaca-se o doutor em teologia e filosofia Willian Lane Craig. Este, aclamado como o “maior debatedor cristão da atualidade” vem disputando (e na maior parte dos casos, vencendo) debates com céticos e críticos da ressurreição. Craig conseguiu sistematizar, de forma prática, suscita e ao mesmo poderosa, os argumentos usados por McDowell, reunindo tudo em quatro itens fáceis de serem memorizados todos os argumentos a serem desenvolvidos.
Craig é bastante claro e objetivo na apresentação de seus argumentos. Por uma razão desconhecida, poucos são os debatedores que analisam sumariamente os argumentos dele. Atualmente, o pesquisador N. T. Wright vem se destacando em seus estudos sobre o Jesus Histórico e sobre as Origens do Cristianismo ao enfatizar e desenvolver o quarto “fato” da argumentação de Craig que leva a conclusão de que Jesus realmente ressuscitou.
Concordamos que a ressurreição de Jesus é a melhor explicação para as “evidencias” apresentadas por Craig. O que não concordamos é que suas “evidencias” sejam realmente evidencias. Construídas da forma como Craig constrói, todo o esquema que ele constrói realmente leva a conclusão de Jesus ressuscitou. Disso não temos duvidas. Temos dúvidas, sim, de que os quatro “fatos” e seus subitens que Craig apresenta realmente sejam salutares evidências históricas, e não meras construções argumentativas confeccionada artificialmente para que se possa chegar a uma determinada conclusão. Por isso, tomados de forma isolada, os argumentos de Craig realmente nos levam na direção que Craig quer que sejamos levados.

Um comentário:

betoquintas disse...

o mais interessante é saber porque foi necessário fazer a apologia (defesa) da crença. por determinados comportamentos, os cristãos eram mal vistos pela sociedade da época, uma vez que estes persignavam em uma forma de sectarismo, visto que a crença lhes impedia de participar da vida social. diversas acusações, preconceitos e discriminações foram lançadas contra os cristãos e os patriarcas escreviam aos governantes romanos suas "desculpas" ou explicações, tentando refutar as acusações. o curioso e o engraçado é que atualmente os espertos usam destes textos como uma "prova" da antiguidade/historicidade de seus mitos.