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segunda-feira, 21 de julho de 2008

O QUE REALMENTE ACONTECEU?

O QUE REALMENTE ACONTECEU?
A Ascensão do Cristianismo Primitivo, 30-70 E।C।
Gerd Lüdemann
Fonte:Free Inquiry, Abril/Maio de 2007:

“Os tempos, eles estão mudando” - e assim são as modernas percepções das origens Cristãs. Tendo como norma os Evangelhos e os Atos, os tradicionalistas negligenciaram por muito tempo a precipitada saída dos discípulos da Galiléia após a execução de Jesus, preferindo focar as mulheres leais ao túmulo vazio e a miraculosa infusão do êxtase espiritual no Pentecostes. Hoje, no entanto, muitos estudiosos vêem o túmulo vazio como um especial articulado, e as línguas de fogo em Jerusalém como uma mítica dramatização das convicções que gradualmente surgiram na Galiléia antes dos discípulos retornarem à Cidade Santa com a sua proclamação do Senhor ressuscitado. Apesar de Lucas ter idealizado um retrato de um movimento unificado e uma única doutrina sendo propagada de Jerusalém para Roma - e daí para todo o mundo - os estudiosos agora reconhecem várias tradições de tão antiga data como na primeira década após a morte de Jesus. Além da comunidade judaica-aramaica em Jerusalém, houve “igrejas” de judeus helenísticos em Damasco e Antioquia que testemunharam Paulo se transformar de perseguidor a propagador. Assim evoluiu cristianismo paulino e, a partir dele a primazia das tradições gentílicas que encontramos em Marcos e Lucas. Alguns estudiosos irão bem longe para ver o começo distinto dos grupos representados por textos como o Didachê, os Evangelhos de Tomé e Maria, os ditos da Fonte (Q), e uma série de textos gnósticos. Mais precisamente, alguns destes grupos surgiram após o ano de 70 EC (Era Cristã), mas a multiformidade do cristianismo primitivo é agora indubitável; e os contos míticos de uma única origem cristã têm dado lugar a considerações históricas baseadas em provas objetivas e análise crítica.

Quando Jesus foi crucificado numa sexta-feira na Primavera de (aproximadamente) 30 E.C, após ter sido detido por militares romanos, os discípulos masculinos que tinham acompanhado-o a Jerusalém fugiram com medo de volta à sua terra nativa, a Galiléia. Vários membros do sexo feminino de sua comitiva foram mais perseverantes, entre eles uma mulher chamada Maria, da aldeia galilaica e piscícola de Magdala.

É claro que Roma tinha razão suficiente para executar Jesus: desordeiros - especialmente qualquer um que parecesse ter pretensões reais - deveriam ser sumariamente removidos. E embora Jesus tenha rejeitado o radical programa teocrático de insurgentes tais como Judas o Galileu, o seu radicalismo ético, social e econômico foi baseada em uma mensagem de Deus similar ao advento abrupto do reino e na regra exclusiva. Mais precisamente, as declarações políticas de Jesus são raras, e ele nunca contrapôs explicitamente Deus e o imperador, mas algumas das suas ações simbólicas tinham, ao menos para a crítica contemporânea, dimensões políticas. Pense apenas na sua atribuição de doze pescadores para governarem sobre Israel, o contraste entre a sua supostamente humilde entrada em Jerusalém e do show de pompa e poder típico da entrada do governador romano, ou o seu altamente ambíguo comentário sobre uma moeda romana e o poder imperial nela representada. O claro subtexto dessas performances foi um gritante ultimato: Deus ou o imperador. Se Deus realmente governa, qualquer repartição da autoridade deve ser, na melhor das hipóteses, derivada e provisória.

Além disso, a violenta interrupção dos negócios no templo na Páscoa judaica por Jesus certamente alarmou os sacerdotes de Jerusalém: isso poderia muito bem ter sido visto (ou mesmo pretendido) como uma simbólica destruição do templo. O seu objetivo não era nem reformar nem prevenir outra poluição, mas sim mais parecia fazer um eco a sua chamada para um novo templo concedido por Deus. Juntamente com relatos de pretensões messiânicas, que incluiu uma reivindicação de um ser há muito tempo esperado, chamado "Filho do homem", estas ameaças percebidas deram aos sacerdotes de Jerusalém diversos motivos para instar uma ação contra o inimigo comum.

A prisão de Jesus e sua morte - sem o benefício de um julgamento - ocorreram em um único dia. Sendo que o dia seguinte era o sábado, o problema do despejo do corpo apareceu. A Lei e o costume judaico proibiam que um cadáver fosse deixando na cruz de noite, mas é ainda mais ofensivo para as sensibilidades judaicas deixar o corpo permanecer lá em um sábado. As autoridades romanas aparentemente permitiram que o corpo de Jesus fosse retirado da cruz; a isso os líderes judaicos confiaram o seu sepultamento a José de Arimatéia ou pessoas desconhecidas enterraram ou mesmo se livraram do cadáver de outra maneira. Ambos os oficiais romanos e judaicos suporam que este seria o fim da questão.

Os pensamentos de Jesus e seus sentimentos em suas últimas horas são obviamente desconhecidos. Sendo que nenhum de seus seguidores estava presente, as frases atribuídas a ele a partir de sua prisão até a sua morte são certamente criações da comunidade cristã. Claramente, os relatos que temos divergem amplamente e refletem as noções preconcebidas de vários evangelistas. Lucas, por exemplo, vai tão longe a ponto de retratar Jesus prometendo ao criminoso em sua direita um lugar com ele no paraíso naquele mesmo dia, e depois pediu a Deus que perdoasse seus inimigos, e finalmente entregou seu próprio espírito nas mãos do Pai. Estes motivos da glória de Jesus e soberania inundam como um fio escarlate toda a narrativa de Lucas em Atos.

OS DISCÍPULOS SUPERARAM O DESASTRE DA SEXTA-FEIRA SANTA

Para os discípulos de Jesus, a sua morte foi um choque tão grave que exigiu um processo de reconceitualização- que começou na Galiléia e foi marcada por experiências visionárias. Pouco tempo depois da Sexta-Feira Santa, Pedro teve uma experiência visual e auditiva da presença de Jesus que deu início a uma extraordinária reação em cadeia. Na Galiléia, Pedro instituiu (ou reconstituiu) o círculo dos doze, presumivelmente modelado sobre o grupo fundado por Jesus. Também pode ter refletido a convicção compartilhada de que as doze tribos de Israel deveria simbolicamente anunciar a chegada iminente do reino de Deus. Afinal de contas, eles tinham seguido Jesus a Jerusalém ansiando, e talvez parcialmente esperando, o advento de que “reino”, uma incipiente noção derivada da mensagem e do exemplo de seu mestre. Primeiramente, a morte de Jesus tinha destruído as suas esperanças anteriores, mas repetições da experiência de Pedro reacenderam e, finalmente, superaram a morte de Jesus. O reino de Deus havia começado, mas não na forma como os discípulos tinham esperado.

Aparições post-mortem de Jesus - tanto a Pedro, que havia repudiado Jesus e depois desertado e para os outros discípulos que tinham fugido anteriormente - foram certamente tomadas com o significado de perdão, e naturalmente o conteúdo dessas experiências foi transmitido aos outros. Sem dúvida, os relatos enfatizam que, longe de abandonar a Jesus, Deus lhe tinha levado para o céu. Eles podem até mesmo ter sugerido - talvez especulativamente de início - que Jesus em breve iria reaparecer do céu como o Filho do homem. Esse cenário predispôs seus seguidores a enveredar por um tremendo novo empreendimento: mulheres e homens que tinham acompanhado Jesus a Jerusalém retornariam para continuar o trabalho que o líder havia deixado inacabado. Mais uma vez (e talvez fosse a última oferta de Deus), eles poderiam pedir por uma mudança de coração e de mente. Estas primeiras visões reportadas por Pedro e pelos doze provaram ser tão infecciosas que somos informados de outra aparição, desta vez a mais de quinhentas pessoas de uma só vez. Neste ponto, sem dúvida, qualquer interpretação não-extática falha (comes to grief).

O poder dinâmico de tal começo não deve ser subestimado. Os próprios irmãos de Jesus foram suficientemente arrebatados no entusiasmo que Tiago - que tivera tão pouca simpatia pela causa de Jesus, e que provavelmente participou da tentativa relatada para afastar o seu irmão “louco” (Marcos 3:21) - disse ter recebido uma visão individual. Além destes encontros pessoais visionários com o “Ressuscitado”, três poderosos elementos históricos definiram e galvanizaram o início da comunidade fé: (1), o ato de partir o pão juntos recapturando, e assim restaurando, a presença do mestre que havia sido tão cruelmente morto; (2) Recordar as suas palavras e obras, redefinindo-os em seu meio, e (3) as promessas messiânicas da Escritura, especialmente os familiares hinos dos Salmos, tornaram-se expressões da realidade atual do exaltado Filho do homem.

O AUMENTO DA FACÇÃO HELENISTA E SUA EXPULSÃO DE JERUSALEM

Mesmo nessa fase precoce, o movimento assumiu novas dimensões quando os judeus de língua grega de Jerusalém se tornaram parte dela - talvez na seqüência de uma experiência extática relatada dos mais de quinhentos irmãos de uma só vez na festa do Pentecostes. Isto levou a uma nova interpretação espiritual das palavras de Jesus e de uma iminente expectativa de que prejudicaram sua prévia fidelidade à Torá e ao culto no templo. A reação hostil dos sacerdotes do templo foi inevitável, e quando, na resultante altercação, um carismático líder Helenista foi morto, o grupo fugiu de Jerusalém e começou a espalhar a sua mensagem sobre Jesus, que apelou para a inclusão dos gentios - para cidades como Damasco, Antioquia, e Cesaréia. Como Lucas indica, eles foram os primeiros a transferir o cristianismo primitivo para as cidades do império e a alterar a nova fé, de uma seita rural da Galileia em uma bem sucedida religião da cidade.

OS MISSIONÁRIOS INTINERANTES E A COMUNIDADE Q

Outro grupo de seguidores de Jesus - itinerantes ativistas ignorados pelo livro de Atos - permaneceram nas áreas rurais onde o radicalismo ético de Jesus foi bem recebido, a dimensão econômica da sua mensagem radical oferecia uma escolha clara entre Deus e as políticas confiscatórias de Roma. Sua depreciação aos ricos é tão dura que chega a ser exagerada. Enquanto os sem-abrigos podem facilmente se despedirem de seus amigos e parentes e aspirar à exaltação da vida espiritual sem emprego, posses, ou mesmo meio de defesa, os ricos só poderiam encontrar salvação se renunciassem seus bens - uma tarefa muito mais difícil para os “que têm” do que para os que “que não têm”. No entanto, enquanto um tema recorrente do ascetismo marca o cristianismo antigo como um movimento recrutado entre os despossuídos e com um forte ethos contra-cultural, a ética universal e exaltada de Jesus foi inerente desde o inicio. Assim, cristianismo primitivo mostra um espírito duplo: ao mesmo tempo em que procura sair ou derrubar uma sociedade corrupta, os fieis tentam estabelecer os mais elevados princípios éticos.

A postura ética do cristianismo inicial, combinando resistência política e reprovação moral, mostra que o radicalismo ético pode ter renascido na luta política logo na primeira geração após a morte de Jesus. Na verdade, a coleção de ditos conhecida como Q (a fonte provável de muitos dos ditos de Jesus em Mateus e Lucas) desafia o ethos radical itinerante. Em três pontos, parte de uma fórmula de apresentação das palavras de Jesus para narrar sua tentação, a sua cura de um servo do centurião, e sua cura de um cego e mudo endemoniado. Juntamente com a exposição das observações de Jesus sobre o príncipe dos demônios, estes parecem, para certo número de estudiosos, reflexo posterior de uma edição que, por sua vez, indica um contexto social diferente.

O clímax da história da tentação pode muito bem aludir à tentativa de Calígula em 39/40 EC de colocar a sua própria estátua no templo, a crise que provavelmente obrigou o incipiente movimento radical a reavaliar a sua ética e a compilar por escrito o conjunto de suas tradições. A história do centurião cuja fé surpreende Jesus, poderia então compensar o mito anti-autoritarista ao retratar um qualificado representante do império, que reconheceu a autoridade de Jesus e ganhou o seu respeito. Neste contexto, o provérbio sobre o reino dividido de Beelzebul transforma-se numa metáfora para o conflito imperial entre Deus e Satanás e os exorcismos um vívido exemplo do domínio de Jesus sobre o mundo. Quando Jesus confrontou esses detentores do poder com ações simbólicas, o editor de Q estava formulando a consciência dos primeiros movimentos por satirizar a potência imperial romana como a ineficaz a postura de Satanás.

PAULO, UM PERSECUTOR DA IGREJA, TORNA-SE UM MISSIONÁRIO DO EVANGELHO

Paulo de Tarso está entre as mais influentes figuras na Cristandade Ocidente. Ao mesmo tempo um judeu, um romano, e um cristão, ele viu-se como um apóstolo chamado pessoalmente pelo Jesus ressuscitado para levar o Evangelho ao mundo Gentio. Nascido na mesma época em que Jesus, algumas centenas de milhas ao norte de seu mestre nativo da Galiléia, Paulo era um judeu da Diáspora que tinha herdado de seu pai a cidadania romana e, portanto, pertencia a ambos os mundos, o judaico e o Greco-Romano. Apesar das restrições judaicas sobre o contato com gregos, recebeu uma educação básica, mediada através Judaísmo Helenístico, que incluiu o ensino em língua grega e o estudo da retórica. Ainda assim, elementos profundamente impregnados de sua cultura ancestral apareceram e permaneceram nas suas cartas muitos anos mais tarde. Mais precisamente, a familiaridade com o teatro, as competições na arena, e disputas filosóficas no mercado mostrou-lhe a amplitude e a beleza do mundo Helenístico e a seu vigor inatamente racional; mas sua religião ancestral oferecia tanto um sentimento de pertencimento e como a segurança de exclusividade. Longe de ser um típico seguidor de sua fé ancestral, ele sabia muito da Escritura Judaica em grego e aceitou a Deus que havia escolhido Israel e prescrito regras para que pudessem viver por elas. Não admira que Paulo tenha deixado seu lar ancestral de Jerusalém; ele queria prosseguir seus estudos no centro do mundo, onde o templo de seu Pai celestial se situava e onde o sacrifício diário era oferecido pelos pecados do povo. Aqui, o jovem entusiástico iria completar sua educação como um Fariseu; aqui, ele iria seguir sua ordenada carreira como um erudito.

Mas como o resultado de um zelo delimitado no fanatismo, tudo acabou de outra forma. Em Damasco, Paulo encontrou um grupo de judeus de língua grega, que se identificavam com um Galileu crucificado chamado Jesus e que haviam ido tão longe para proclamá-lo como Messias. Não só isso, eles alegaram que ele havia sido elevado por Deus e, também, divulgaram suas críticas da lei. Então, como se anunciando um criminoso crucificado como Messias não era suficiente, ele pediu mudanças na prática judaica! Foi demais para Paulo. A eleição de Israel tinha levado muitas vezes a glorificar Deus em seu zelo pela lei ancestral, e Paulo tentou forçadamente conter este novo movimento. Outros não viram qualquer razão para uma intervenção draconiana, mas os jovens zelosos viam isso como uma ameaça. O rápido crescimento dessa grande seita diaspórica tinha provado sua razão. Imaginar que ele estava prestes a desempenhar um papel importante na divulgação de um movimento que em breve seria uma ameaça mortal para os judeus tiraria todo o seu fôlego.

Mas, no decorrer da sua furiosa perseguição em Damasco, aquele cujos discípulos ele estava molestando apareceu a Paulo em uma visão. Punido pessoalmente pelo Senhor ressuscitado, Paulo não teve escolha: era imperativo entrar em seu serviço, para aquele que certamente era o Filho de Deus, e a todos os seus seguidores tinham dito que ele era de verdadeiro. O perseguidor devem imediatamente entrar na comunidade que ele tinha perseguido. Evidentemente, a visão celeste o fez ficar cego - tudo isso ocorreu em um nível profundamente emocional - mas um dos seus novos irmãos na fé, Ananias, curou Paulo em nome de Jesus, recebendo-o, e o instruindo na nova fé da qual ele tinha apenas um rudimentar conhecimento de perseguidor.

PAULO DESCOBRE SEU DISTINTIVO PAPEL NO DRAMA DA SALVAÇÃO

Com tempo para refletir sobre a aparição de Jesus e o seu significado, Paulo relembrou-se das passagens nas Escrituras que anunciada um futuro Messias. Mas como ele poderia conciliar estas passagens com o fato de o líder desses cristãos havia morrido na cruz? Nenhuma das profecias tinha concebido um Messias em sofrimento, mas o Senhor celestial que havia lhe abordado era indiscutivelmente o Jesus crucificado. O ex-fariseu biblicamente sofisticado encontrou uma pronta resposta: num intrépido salto de pensamento, ele havia combinado o ideal judaico de Messias com o “servo sofredor” a partir do livro de Isaías - a fusão foi facilitada pelo fato do sofrimento de Jesus ter sido caracterizado somente como uma breve passagem para a glória celeste. A analogia deve ser válida para todos os Cristãos: todos sofrem tribulação antes do grande dia.

Na Escritura, Paulo também descobriu o seu próprio papel no drama celestial. Ele ansiosamente sentiu que havia um novo significado nas passagens de Isaías e Jeremias, em que os profetas afirmam que o próprio Deus os tinha ordenado no ventre de suas mães; talvez ele também, como os grandes profetas do passado, tivesse sido especialmente chamado para ser um pregador apostólico. A tremenda autoconfiança que agora havia preenchido Paulo excedia até mesmo a de seu período pré-cristão - um desenvolvimento tanto mais notável quando se considera que este entusiasta de Tarso nunca conheceu pessoalmente Jesus de Nazaré.

Mas como poderia Paulo alegar autoridade diretamente do Senhor ressuscitado sem ter aprendido dos seguidores, que ele tinha tão recentemente perseguido, algo da vida e dos ensinamentos de seu líder? Como poderia uma experiência visionária dar a ele um lugar de igualdade com os pessoais seguidores de Jesus? Sua estratégia foi apropriar-se da fórmula que ele deve ter aprendido tanto a partir das comunidades de Damasco ou de Antioquia como parte da instituição da Ceia do Senhor: "Eu recebi do Senhor o que também foi entregue a vocês...". Ele similarmente explicou tudo o mais que ele havia aprendido - ou quis reclamar que tinha aprendido - acerca de Jesus. A autoridade do Senhor, que tinha sido comissionada pessoalmente o esse apóstolo, automaticamente santificou as palavras de Paulo. Acreditando-se estar em contacto direto com o Senhor, Paulo tomou a suas mais profundas convicções como revelações - e seguiu-as sem hesitação.

Enquanto o céu era quase sempre um livro aberto para Paulo, um anjo de Satanás também poderia castigá-lo se o Senhor assim o quisesse ou se a seu suplemento de revelações lhe subisse à sua cabeça. Por outro lado, ele era suficientemente seguro de si para invocar o poder de Satanás, quando preservava a comunidade das impurezas e para salvar a alma de um pecador da exigida condenação da morte. Paulo também viu o espírito de Satanás agindo quando apóstolos rivais criaram discórdias nas comunidades que ele havia fundado. Ainda assim, Satanás e os seus anjos agiam apenas como se estivessem predeterminados por Deus e jamais ganharam poder sobre Paulo e suas comunidades. Eles não poderia frustrar o propósito de Deus, que tinha enviado o seu Filho ao mundo para salvar os homens e mulheres do pecado. Como um auto-proclamado agente de Deus e do Senhor Jesus, Paulo estava vinculado a este drama cósmico da redenção. O ponto-chave foi que a salvação seria, e deveria, incluir os Gentios: eles deviam pertencer à Igreja de Jesus Cristo em pé de igualdade com os Judeus que acreditavam em Jesus. Naturalmente, esse ponto de vista foi repugnante para muitos cristãos judaicos.

A NOVA EXPERIÊNCIA SE DESENVOLVE EM PAULO E ENTRE OUTROS CRISTÃOS

Desde o começo, Paulo tinha quase inebriantemente experimentado a unidade da igreja composta de Judeus e Gentios. Vemos esta primeira na uma passagem de Gálatas (3:26-28), em que ele cita a liturgia para o batismo de conversos: "Não há nem judeu nem grego, nem homem nem mulher, escravo nem livre, mas todos são um em Jesus Cristo". Nesta fórmula, que foi repetida uma e outra vez no culto, os limites cuidadosamente construídos de Israel foram demolidos. Também aparece em seu jubilante grito de 2 Coríntios (5:17-18): “Se alguém está em Cristo, nova criatura é, as coisas velhas já passaram, eis que o novo chegou. Tudo isto [é] de Deus, que nos tem reconciliado para si mesmo através de Cristo”.

Essa nova experiência chamava por ritos que a mantivesse viva. Paulo conhecia os dois principais ritos - batismo e a Eucaristia - desde a congregação que ele outrora havia perseguido. Que também eram os principais rituais de outras comunidades em desenvolvimento que aprendemos através do Evangelho de Marcos, cujo autor anônimo, um jovem contemporâneo de Paulo, forma o seu Evangelho com os relatos do batismo de Jesus (Marcos 1:9-11) e sua instituição da Eucaristia (Mc 14:22-25). Trata-se de um todo, mas alguns indícios mostram que o evangelista está conscientemente envolvido na criação narrativa de uma nova comunidade da fé, que inclui tanto os Judeus como Gentios. Nos relatos de Marcos (escritos cerca de 70 EC) Jesus leva a sua mensagem para áreas gentias da Galiléia, sua fama precede-o em uma viagem a Siro-Fenícia, e ele repetidamente anula códigos de pureza e dietéticos que por muito tempo tinham distinguido Judeus de Gentios. Marcos também invoca o venerado Isaías ao colocar na boca de Jesus a garantia de que a casa de Deus deve ser aberta a todos os povos. O que equivale a uma política de abertura aos Gentios não pode ser um aspecto imprevisto de seu mais antigo Evangelho.

A narrativa de Lucas em Atos (o que pode ter sido escrito cinco décadas depois) conta uma história diferente: a rejeição judaica da nova mensagem foi o que provocou a missão Gentia. Mas ele provavelmente trabalhou de outra maneira, com a erosão das tradições e práticas judaicas facilitando a conversão dos gentios e provocando o ultraje judaico. Seja como for, Marcos e Lucas concordam ao retratar um abismo cada vez maior entre o Cristianismo e suas raízes Judaicas.

AS DESAVENÇAS DO CRISTIANISMO PAULINO PARA O JUDAISMO: RAZÕES E RESULTADOS

As aparições do Senhor ressuscitado aos primeiros Cristãos não foram experiências sensoriais, mas “espirituais”, e as suas esperanças espirituais visavam um evento ainda maior - o retorno de Jesus sobre as nuvens do céu, acompanhado pelo tão-previsto estabelecimento do reino de Deus. Estas estimulantes especulações apresentaram para Paulo um problema. Em tal atmosfera tão sobrecarregada, como ele poderia impressionar os seguidores pessoais de Jesus sobre a importância e a validade de suas próprias experiências extáticas e assim convencê-los de que o seu apostolado e autoridade eram iguais aos deles? Como seria a sua interpretação da vida e dos ensinamentos de Jesus ser feito paradigmático?

O instável relacionamento de Paulo com a comunidade de Jerusalém indica claramente o estresse existente. Uma visita inicial de duas semanas cerca de três anos após a sua visão de Cristo permitiu a Paulo fazer, cautelosamente, contato com Cefas (Pedro), o primeiro discípulo de Jesus, e atual líder do movimento. A missão Gentílica, a pessoa de Jesus de Nazaré, bem como a natureza dos eventos da Páscoa já eram questões bastante espinhosas. Paulo estava satisfeito por esta reunião e especialmente pela validação da sua atividade de pregação que logo se seguiu. Eventos importantes logo vieram espessa e rapidamente. Não só a missão Gentílica de Paulo revelou ser extraordinariamente bem sucedida, mas também comunidades judaico-cristãs nasceram em Lida, Jope, Cesaréia, Sidom, e noutros locais. O “Espírito Santo”, imaginado como um ser misterioso e miraculoso, encontrou ampla aceitação e favorecimento, em primeiro lugar na Síria e, em seguida, nas comunidades Paulinas na Galácia, Macedônia, e Acaia. Um movimento havia nascido, trazido à vida por um homem que, sem nunca ter conhecido o Jesus terreno, estava mais em contato com a contraparte celeste.

A situação era como um gigantesco navio fechado cheio de água quente. O número crescente de discípulos que invocaram o Cristo ressuscitado levou o Judaísmo à sua ebulição, e a água já não podia mais ser contida. O recipiente rebentou, a água derramou-se para fora, e, ainda em vaporização, encontrou maneiras diferentes canais um tanto mais calmas. Em suma, inúmeras novas comunidades que abraçaram tanto Judeus como Gentios foram criadas apenas para gerar conflitos mais tarde – os Cristãos Judaicos conservadores estavam escandalizados por causa da atividade de não observância nas comunidades mistas e tentaram ilegalizá-los. Eles não apenas perceberam o que Cristãos Gentios fizeram, mas eles também estavam determinados de que o ecumenismo não deveria enfraquecer a sua própria identidade única e prática.

A exigência de estrita segregação dos Cristãos Judaicos de seus irmãos pagãos não tardou muito em chegar. Na presença de Paulo, representantes de Jerusalém fomentaram uma amarga controvérsia sobre preocupações com pureza na comunidade mista de Antioquia e, assim, ameaçando tudo o que ele tinha alcançado. E assim foi que, catorze anos após a primeira visita, Paulo recebeu uma revelação de seu Senhor celestial para voltar a Jerusalém. Orgulhoso e inflexível, ocupou-se de levar com ele Tito, um grego incircunciso, para estabelecer um precedente. Não é coincidência que o antigo parceiro de missão de Paulo, Barnabé era também uma parte litigante para a discussão, mas sim, também, foram os Cristãos Judaicos conservadores que, como Paulo coloca, surgiram na comunidade (mista) e provocou uma dura disputa. Inicialmente, foi completamente diferente da primeira visita, pois além de Cefas, João já tinha uma voz, e o irmão biológico de Jesus, Tiago, liderou o triunvirato. Isso é indicativo da mudança no alinhamento de forças, em que dois dos discípulos originais estavam subordinados a um, o qual já tinha sido - no mínimo - cético em relação ao ministério de Jesus.

Depois, sem dúvida, de um vigoroso debate, ficou de acordo que a igreja de Jerusalém fosse difundir as Boas Novas aos judeus, e Paulo e Barnabé iriam espalhar-las aos Gentios. Como muitos tratados, esse era uma espécie de declaração bem maleável que permitiu que ambas as partes lessem suas próprias formas de entenderem-no; além disso, a situação era muito diferente para os judeus que vivem na Palestina que aqueles na Diáspora. Para Paulo era mais importante se chegar a um acordo, para que fosse respondida a principal preocupação de Paulo: a saber, assegurar a unidade da Igreja.

Mas o acordo falhou em não conseguir responder ao intenso problema de como as pessoas nas comunidades mistas iria viver juntas. Longe de se afastar de uma rigorosa segregação entre Cristãos Judeus e Gentios, o acordo foi sobre as condições da separação. Ainda assim, apesar de todos os problemas da “fórmula da união”, todos ficaram de acordo sobre um recolhimento de fundos para ajudar à comunidade Jerusalém - um projeto que, ironicamente, seria um teste para provar o relacionamento entre as Igrejas Cristãs-Gentia e as igrejas Cristãs-Judaica.

Barnabé foi incumbido para trazer fundos da igreja de Antioquia, e Paulo, a partir das igrejas na Grécia e Galácia que ele havia fundado logo em finais dos anos 30. Isto permitiria que Paulo mantivesse os líderes de Jerusalém em seu acordo (servindo assim de um instrumento de política da Igreja) e, ao mesmo tempo em que confirma que o seu apostolado para os Gentios foi baseado na unidade da igreja composta de Judeus e Gentios. Sem essa unidade, ele acreditava, o seu apostolado para os Gentios era nulo e sem efeito.

Além disso, Paulo já tinha previsto uma missão em Espanha, a fim de conquistar a última parte do mundo conhecido para o seu Senhor. Esta foi uma questão de certa urgência, pois a vinda do Senhor estava perto. Mas, uma vez que o acordo teve de ser salvaguardado, Paulo primeiro realizou uma viagem entre as suas comunidades para assegurar o recolhimento e solidificar o vínculo entre suas igrejas e aqueles em Jerusalém. No primeiro dia de cada semana, ele instruía, os membros de cada comunidade deveriam depositar alguma coisa aparte, a fim de garantir uma melhor soma quando Paulo viajasse para receber os fundos que iria entregar à delegação que iria levá-los a Jerusalém. Naturalmente, a viagem serviu mais para fins políticos e financeiros. Quando surgiu a oportunidade, como já havia acontecido em Éfeso, Paulo fundou novas comunidades de fiéis. E, evidentemente, as atuais comunidades necessitavam de seu aconselhamento pessoal e de sua exortação, ou do reforço de delegados como Tito ou Timóteo.

Então o desastre começou. Ultraconservadores de Jerusalém começaram a invadir as comunidades de Paulo e ameaçaram destruir tudo o que ele havia trabalhosamente construído e firmemente defendido. Os tradicionalistas “falsos irmãos” que ele tinha derrotado em Jerusalém agora o atacavam nas suas próprias igrejas. Eles desafiaram sua autoridade apostólica e apelaram para a mais estreita observância da lei, e assim, conduzindo uma disputa entre Paulo e Jerusalém. Assim, a batalha para o recolhimento tornou-se a batalha para a unidade da Igreja também. Para certificar-se de que a cobrança seria recebida em Jerusalém, Paulo mudou seus planos e aderiu à delegação transportando-lo para lá. Esta seria sua terceira campanha de uma luta em que ele já havia prevalecido.

Na altura desse conflito, pouco antes de Paulo se estabelecer fora de Jerusalém, ele escreveu sua carta à igreja Romana, uma carta que deve ter sido destinada aos olhos da comunidade de Jerusalém também. Nesse memorável documento, o apóstolo proclamou sua mensagem de justiça pela fé, prometendo salvação, com base na expiação concedida pela morte de Jesus, que estava disponível tanto para os Judeus como para os Gentios. Estranhamente, porém, não parece fazer notar que, em Romanos 9-11 ele parcialmente retratou grande parte de seu ensinamento anterior. Quer seja de um latente etnocentrismo ou de um desejo de capturar a afeição de partidários Judeus, ele agora afirmava que depois de um conjunto completo de Gentios ter sido convertido, todos de Israel seriam salva sem reservas - na verdade, sem sequer acreditarem em Cristo (Romanos 11:26 ). De repente, ser uma das pessoas escolhidas pareceu ser mais valioso do que ele fez parecer nos primeiros oito capítulos.

Sua explicação para isso aparece no início do capítulo 9: ele sofre profundamente e pessoalmente por conta de muitos dos seus irmãos Judeus que não encontraram a salvação em Cristo, e ele queria ser separado der Cristo se isso tiver efeito em sua libertação. Vendo nos calcanhares afiados de Paulo o seu perspicaz menosprezo pela lei judaica, isso soaria estranho, sem dúvida, para que sancione uma prioridade final do sentimento sobre o pensamento – em Paulo como em quase todos os seres humanos.

Este aparente amolecimento, porém, não iria permitir aos Judeus alívio nas épocas posteriores. Nas próprias igrejas Gentílico-cristãs de Paulo, a sua dispensa especial para Israel não poderia impedir incrédulos Judeus de serem condenados à eternidade, como uma provisão não poderia salvar Gentios incrédulos da condenação no futuro. Um subseqüente editor do [evangelho de] Marcos atribui ao Jesus ressuscitado uma maldição [proferida por ele] (Marcos 16:16): “Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado”.

O MAIS ANTIGO EVANGELISTA DO REPÚDIO AO JUDAISMO

O Jesus de Marcos é um ser celeste com uma forma terrena. Muito antes da ressurreição, a glória divina iluminou sua vida. Para dramatizar esta dupla natureza, Marcos coloca cenas de epifania no início, meio e final da sua narrativa. No batismo de Jesus, uma voz celestial o identifica como o filho de Deus; na história da transfiguração, a mesma voz celeste repete o título, e na cruz, um centurião romano - um Gentio - é a primeira pessoa a confessar a filiação divina de Jesus. As duas primeiras são proclamações divinas dirigidas apenas a Jesus e aos seus discípulos, mas o centurião é um homem cuja mensagem será transmitida aos outros. O mistério divino é revelado gradualmente, mas em vez de Jesus alegar sua divindade, esta foi atribuída a ele - no último momento por alguém pouco provável de ser movido pela providência divina.

A cada vez maior distância entre Judaísmo e que só mais tarde foi denominado “cristianismo” resultou em grande medida na opinião de Paulo sobre a divindade de Jesus, com base em sua ressurreição e a convicção de que a ação única de Deus tinha conferido esse estatuto a ele. Refletindo esta visão no seu Evangelho, Marcos confere ao Jesus terreno poderes divinos e continuamente critica os discípulos pelo que ele considera como a incapacidade dos discípulos de construir uma ponte conceptual entre o Jesus que eles conhecem e o Filho Eterno. É esta divinização de Jesus (a qual pelo menos é paralela, se a mesma não for derivada diretamente de Paulo), que levou a tradição Evangélica inexoravelmente para longe do monoteísmo estrito do judaísmo.

Esta separação é evidente nas recorrentes narrativas de Marcos sobre o conflito com os adversários judeus acerca da observação do sábado, regulamentos de pureza, bem como o valor do sacrifício. Mas isso é mais marcante na sua ação no templo como um símbolo. Para Paulo, isso foi o suficiente para que Jesus cumprisse as profecias judaicas; Marcos o faz profetizar a destruição daqueles vários seguimentos do Judaísmo e faz com que seu último grito acompanhe o véu do templo - que representa a exclusividade e santidade do culto - se rasgar ao meio. E a idealizada coincidência desse cataclismo com a confissão do centurião (o soldado na cruz não poderia ter visto o templo) é uma afirmação indiscutivelmente simbólica tanto da superação cristã do judaísmo como da inclusão dos Gentios no regime de Salvação de Deus.

PAULO COMO UMA FONTE DE ALIENAÇÃO DO JUDAISMO

O próprio Paulo experimentou o repúdio Judaico-Cristão da fusão com o Cristianismo Gentio. Não foi apenas o recolhimento que ele trouxe a Jerusalém foi rejeitado, mas os hostis “irmãos” Judaico-Cristãos também o denunciaram as autoridades romanas, acusando-o de ter colocado um Cristão Gentio dentro do templo. Aprisionado, Paulo recorreu ao imperador para sua vida e apenas assim chegou a Roma, onde foi executado sob Nero. Ele nunca chegou à Espanha. ‘

Não obstante o resultado trágico, é justo dizer que as acusações contra Paulo - que ele estava ensinando aos Judeus da Diáspora a não circuncidarem seus filhos e, em geral, afastando-os da lei judaica – eram essencialmente válidas. Embora esses itens não estejam explícitos nos escritos de Paulo (na verdade, ele enfaticamente exorta os judeus a não renunciar à circuncisão), a sua pregação teve resultados muito semelhantes a essas acusações.

Visto que as comunidades Judaico-Cristãs Paulinas eram frequentemente uma minoria alienada de sua religião-mãe, muitos abandonaram a circuncisão e logo perderam sua identidade judaica. Além disso, a doutrina do apóstolo da justificação pela fé, não só contestava a sanção da lei judaica, mas também poderia ser facilmente mal-interpretada como libertinismo. Também não menos importante, a posição Paulo sobre a lei não era de nenhuma maneira clara. Tendo concluído que uma vida em Cristo proporcionava as respostas a todas as questões significativas, ele fez afirmações contraditórias ou equivocadas sobre a competência e vigor da lei; e depois disso, seus opositores judaico-cristãos não puderam chegar a um entendimento com ele.

PAULO E O ILUMINISMO GREGO

Dessa auto-descrição “Gentios para aos Gentios e Judeu para os Judeus” tinha-se tornado, com efeito, nem um Gentio nem um Judeu. Combinando uma forte medida de arrogância e uma tendência para o descuido, ele deve ter sido um perplexo para os espíritos honestos. Mas, como atesta a sua grande realização, esta abertura em todos os lados foi um bom caminho para alcançar o sucesso. Apenas em Atenas ele se chocou com um muro de tijolos. Quando ele tentou impressionar os filósofos Estóicos e Epicurístas proclamando o julgamento futuro através de Cristo e a ressurreição corporal, eles sumariamente lhe mostraram os seus limites. Sua religião, alicerçada na experiência mística, não alcançara o desafio intelectual da Grécia. Que ele não fundou a comunidade de Atenas pode ser um dado indicativo; isso sugere que a sua intervenção na Primeira Carta aos Coríntios sobre a sabedoria humana sendo loucura para Deus foi, em parte uma fuga e, em parte uma forma de racionalizar o menosprezo ateniense.

Para Paulo a religião não era o produto de uma mente treinada na lógica - uma mente que objetivamente examina de todos os conceitos e pontos de vista sem ceder aos fantasmas da imaginação. Pelo contrário, o Cristianismo Helenístico que é o seu legado mostrou um gosto sobrenatural em sua sujeição à autoridade e entrega a orientação divina: no seu centro não está a mente, mas as emoções - a exaltação mística de self apreendida pelo Espírito.

Na verdade, o sucesso de Cristianismo Paulino refletiu sua consonância com o espírito da época. O mundo tinha-se tornado cansado do pensamento. As pessoas queriam e procuravam uma forma conveniente para garantir a sua imortalidade, e um dos modos mais populares para alcançar isso foi pela iniciação em mistérios, dois exemplos dos quais foram batismo e a Ceia do Senhor. Sejamos francos: a marca de Paulo do Cristianismo -, que se tornou o movimento da forma espiritual normativa - constituía uma reação contra o Iluminismo grego, ao mesmo tempo em que a lei estatal, o costume, e mesmo as formas de saudação vieram a ser dominados pelo autoritarismo. A essência da liberdade na Grécia antiga era estrangulada juntamente com o espírito constitucional do estado romano. Prerrogativa substituída pela investigação; fé substituída pelo conhecimento; a independência do espírito humano deu lugar à humilde subordinação a uma deidade todo-poderosa no céu; e a escrava observância dos mandamentos divinos suplantando a moralidade natural humana. Quando o trabalho de Paulo foi realizado, a queda da vibrante cultura milenar que tinha crescido as margens do Helenismo foi concluída.

O RESULTADO DA ATIVIDADE DE PAULO

O que Paulo conseguiu? Antes de mais nada, é claro que a Igreja Cristã deve sua existência a este homem Judeu de Tarso; Lucas justamente dedica mais da metade dos Atos ao que podemos chamar de o verdadeiro fundador do cristianismo. E Paulo tinha razão quando disse que ele trabalhava mais arduamente do que todo o resto; ele definiu o rumo da futura viagem da Igreja ao transplantar sua incompreensão da religião de Jesus para território Gentio e, ao contrário de seu instinto mais profundo, forjou a duradoura separação da igreja e Israel.

Isso, por sua vez, ocasionou os trágicos resultados da sua atividade - uma cadeia de eventos que se estendeu por quase dois milênios para além do horizonte temporal dessa narrativa. Cristãos anti-judaicos sobre solo pagão receberam um forte impulso a partir de Paulo, juntamente com outros, e tiveram um efeito devastador. Os autores Novo Testamento iniciaram uma vergonhosa tradição de agressão aos judeus não-crentes por não aceitarem a Jesus como seu salvador. Exceto para Paulo e seus irmãos em Cristo, o judaísmo nunca teria sido levado a este abismo.

Além disso, Paulo e os outros cristãos primitivos enfrentaram desafios insuperáveis de razão crítica, acusações que enfraquecem quase todos os detalhes de seu sistema de crença: (1) a noção de que o Filho de Deus teve de expiar os pecados do mundo, (2) a absurda identificação de Jesus com o tão esperado Messias de Israel - e com isso as arrogantes alegações de Paulo e de outros autores Cristãos por falarem de alguém que nunca haviam conhecido; (3), a opinião de que os seres humanos podem fundamentar em desejos místicos uma séria expectativa da ajuda decisiva; (4) confundir afirmações sobre a Lei que persistentemente ocultam seus pressupostos, incluindo a estranha noção de que uma solução - Cristo - já foi achada antes mesmo que a questão pudesse ter sido colocada; e (5) a alegação de que um acontecimento histórico possa trazer salvação pessoal a toda a humanidade.

Podemos talvez compreender um homem do primeiro século aceitando servos anônimos de Jesus fazendo tais afirmações estúpidas, mas tais alegações tornam-se perigosas quando, após dois milênios, elas ainda são defendidas pelas igrejas cristãs, e até mesmo por teólogos acadêmicos. Considere apenas um exemplo: essas pessoas afirmam que a ressurreição de Jesus é de objetiva e de significância histórica - na verdade, que é o turning point da história mundial e, por conseguinte, um acontecimento de importância cósmica.

O EFEITO DESASTROSO DO "MONOTEÍSMO" CRISTÃO E SUA TEOLOGIA POLÍTICA

Com os evangelhos apócrifos, como os atribuídos a Tomé e a Maria, juntamente com a Fonte dos ditos (Q) e o Didachê, temos evidências da existência de outras tradições cristãs antigas, mas, de uma maneira geral, suas contribuições foram marginalizadas, reprimidas, ou assimiladas. Essa é a expressão da fé proto-ortodoxa que temos analisado, a vertente que se tornou aquilo que conhecemos como Cristianismo histórico. Narrar a história dessa forma dominante de cristianismo primitivo significa fazer julgamentos críticos sobre Paulo e seus irmãos em Cristo. Que o apóstolo aos Gentios foi uma figura elevada no Cristianismo primitivo - na realidade, o verdadeiro fundador da Igreja – isso é certo. Mas a perspectiva de que suas cartas e do restante dos escritos do Novo Testamento representam a palavra de Deus é um crime contra a humanidade e contra a razão. Estudar-los hoje deveria fazer-nos reconhecer que tal pensamento não oferece uma chave útil para o futuro. Sua imagem de Deus não pode reclamar o respeito dos descrentes, mas somente comandar pela obediência pretendida para evitar o castigo eterno do inferno. O Cristianismo primitivo era um monoteísmo cristologicamente distorcido à beira de se tornar um totalitarismo que faltava com respeito a qualquer dissidente interno, e descrentes - tais como os Judeus e pagãos - fora da igreja. Apenas três séculos depois, na realidade, esses dissidentes (ou simplesmente diferentes) grupos tornaram-se o alvo de uma ação conjunta dos “verdadeiros” fiéis e das forças políticas do Império Romano. Eles foram destruídos, neutralizados, ou expulsos. A queima de livros relatada em Atos 19 como uma ação voluntária por antigos pagãos prefigurou séculos de violência contra os opositores da ortodoxia cristã. A abertura de Lucas ao Império Romano proporcionou ricos frutos.

Apesar dos muitos infelizes resultados históricos de apologética Cristã primitiva, não se pode negar as realizações humanas das primeiras igrejas nem duvidar que estas derivaram em grande medida do empenho consciente de seus membros com o que eles percebiam como sendo Deus। Ao mesmo tempo, o zelo religioso dos seus representantes permanece suspeitamente próximo de um fanatismo que, uma vez que encontraram um aliado no poder político, custaram a vida de pelo menos um milhão de pessoas por séculos nos últimos dois milênios. Infelizmente, como a história mostra, o conflito inevitável gira em torno desse tipo de compromisso contra o bem-estar dos meros mortais homens e mulheres.
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Gerd Lüdemann é professor de Historia e Literatura de Cristianismo Antigo na Universidade de Göttingen, Alemanha, diretor doe Instituto dos Estudos sobre o Cristianismo Antigo, e um patricionidor do Jesus Project. A universidade impôs restrições a seu ensinamento, devido ao seu trabalho na crítica religiosa. Seu novo livro é o “Evangelho e a Intolerância” (2007)।

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Charles Coffer Jr é Graduando em História pela Universidade Estadual do Maranhão – UEMA / CESI.



segunda-feira, 7 de julho de 2008

"Em três dias, você deve viver"



Comentários introdutórios



O texto que disponibilizo aqui foi traduzido de última hora. Mal a descoberta do tablete anterior as estórias de Jesus foi feita, este artigo já saiu nos Estados Unidos. Traduzí as pressas, e por isso espero que tenha ficado legível. Algumas considerações devem ser feitas:

1) Quem é Israel Knohl: Knohl publicou um livro no ano de 2000 onde apresentava sua tese de que um messias sofredor era crença muito comum muito antes mesmo do movimento de Jesus começar a existir. Mas sua teoria não angariou nenhum crédito no mundo acadêmico, porque ele não tinha qualquer prova textual de que essa crença existia antes de Jesus. As referencias judaicas a um messias que morria pareciam criações bem posteriores a Jesus, datando o 2° século d.C. Mas com essa nova descoberta, sua teoria passa a ser confirmada e com ela uma nova reinterpretação da tradição judaica da época do 2° templo e do messianismo cristão primitico.

2) Sobre Mashiah ben Joseph: Em minha monografia de graduação, chamada “Querigma: a formação da imagem de culto a Jesus Cristo no cristianismo primitivo” (UEMA, 2008), dediquei boa parte para dissertar sobre o “Messias Filho de José”. Minha tese era a de que a referência a José, marido de Maria, como pai (biológico ou adotivo) de Jesus era uma construção folclórica judaica, baseada na crença do messias filho de José. No entanto, ao ler Geza Vermes, Scardelai e J. P. Meier, me deparei com argumentos que colocavam em xeque essa minha teoria. Eu me baseava em Dn 9, que fala sobre a morte de um sacerdote judeu, como a possível fonte para a crença em um messias que morre anterior a era cristã. Coletei, inclusive, boas referências taumúdicas, etc. No entanto, como disse Vermes, não existe (ou existia) evidencias da crença no messias que morre, chamado Filho de José, na tradição judaica, anterior a Bar Kokhba. Esses autores foram unânimes em dizer que o messias Filho de José, que morre, é uma criação lendária que data do ano de 130 d.C., na época da última revolta judaica. Pensei: “Não vou colocar uma coisa sem fundamento ou evidencias na minha monografia”. Por isso, eliminei essa parte de minha monografia e fui me dedicar a outros aspectos mitológicos de Jesus Cristo.

No entanto, essa nova descoberta torna defasada a opinião desses autores, de modo que, prontamente, reabri essa parte da minha monografia e acrescentarei os dados contidos nesse artigo para enriquecer o conteúdo. Como atrasei a apresentação e defesa de minha monografia para daqui a seis meses, terei tempo suficiente para redigir. O que quero enfatizar aqui é minha alegria e satisfação de ver minha teoria (que coincide com a de Knohl) ser evidenciada pela descoberta desse texto. Espero que o nosso ideal de “repensar” o cristianismo seja alcançado e ilumine a vida e mente de milhões de cristãos no mundo inteiro que ainda se encontram obscurecidos pelas idéias mitológicas e folclóricas contidas nos Evangelhos Bíblicos.

Charles Coffer Jr.


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"Em três dias, você deve viver"


Por Israel Knohl
Traduzido por: Charles Coffer Júnior
Fonte:
http://www.haaretz.com/hasen/spages/850657.हटमल




A primeira menção do "Messias morto", chamado Mashiah ben Yosef (Messias Filho de José), é do Talmud (Sukkah 52a). No meu livro "O Messias Antes de Jesus" (University of California Press, 2000), considero que a história desse Messias morto é baseada em um fato histórico. Penso que está ligada à revolta judaica na Terra de Israel na seqüência da morte do Rei Herodes, em 4 a.C. Esta insurreição judaica foi brutalmente reprimida pelos exércitos de Herodes e do imperador romano Augusto, e os líderes da revolta messiânica foram mortos. Estes eventos definem a tradição do Messias morto Filho de Joseph em movimento e abriu o caminho para a emergência do conceito de "messianismo catastrófico". Interpretações do texto bíblico ajudaram a moldar a convicção de que a morte do messias era um elemento necessário e indivisível de salvação. A minha conclusão, baseada em escritos apocalípticos datados deste período, foi de que certos grupos acreditavam o Messias iria morrer, ser ressuscitada em três dias, e subir ao céu (ver "O Messias Antes de Jesus", 27-42).

Ada Yardeni e Binyamin Elitzur recentemente publicaram o texto de um fascinante texto que eles chamam de "Hazon Gabriel" ou o Apocalipse Gabriel (Cathedra magazine, vol. 123). Este texto, gravado em pedra, veicula a visão apocalíptica do Arcanjo Gabriel. Yardeni e Elitzur datam-no pelos seus recursos lingüísticos e as formas das letras para o final do primeiro século a.C.

Nas linhas 16-17 do texto, Deus aborda Davi da seguinte forma: "Avdi David bakesh min lifnei Efraim" ("O meu servo David, Efraim pergunta"). Na Bíblia, Efraim é o filho de Joseph. Este prevê a criação de uma equivalência entre David e Efraim e os Talmudicos "Mashiah ben David " e "Messias Filho de Joseph", e confirma a minha teoria de que o Messias Filho de Joseph já era uma figura conhecida no final do primeiro século a.C.

Embora Yardeni e Elitzur ofereçam uma excelente leitura do texto, na minha opinião, uma das mais importantes palavras não foi devidamente decifrado. Linha 80 começa com a frase "Leshloshet Yamin" ( "Em três dias"), seguida por outra palavra que os editores não podiam ler. Em seguida vem a frase "Ani Gavriel" ( "Eu, Gabriel"). Creio que este "ilegível" palavra é realmente legível. É a palavra "hayeh" (viva), e que o Arcanjo Gabriel está dando ordens a alguém: "Leshloshet Yamin hayeh" ( "Em três dias, você deve viver"). Em outras palavras, em três dias, você deve retornar à vida (compare "bedamaiyikh ha'ee" - traduzido como "viver no teu sangue" - em Ezekiel 16:6). A palavra "haye" (viver) está escrito aqui com alef. Ortografia semelhante aparece nos Rolos do Mar Morto, por exemplo, no rolo de Isaías, onde a palavra "yakeh" (30:31) é escrito com um alef após o Yod.

Esta é seguida por dois traços de duas outras palavras. As letras não são fáceis de fazer, mas a primeira palavra que parece começar com uma gimmel e vav. A próxima palavra não é clara. A letra lamed é perfeitamente legível, e a letra antes dele parece ser um ayin. Creio que a frase pode ser reconstruída da seguinte redação: "Leshloshet Yamin hayeh, ani Gavriel, gozer alekha" ("Em três dias, volte à vida, eu, Gabriel, comando a você"). O arcanjo está ordenando a ressurreição dos mortos dentro de três dias. Para quem ele está falando?

O que é o "príncipe dos príncipes"?

A resposta aparece na linha seguinte, Linha 81: "Sar hasarin" ("príncipe dos Príncipes"). A frase seguinte: "Leshloshet Yamin khayeh, ani Gavriel, gozer alekha, sar hasarin" (Em três dias, eu, Gabriel, comando a você, príncipe dos príncipes. "Quem é o" príncipe dos príncipes "? A principal fonte bíblica para a Revelação de Gabriel é a narrativa do Livro de Daniel (8:15-26), em que o Arcanjo Gabriel revela-se a Daniel pela primeira vez. Gabriel descreve um “rei da feroz semblante”. Este rei "está destruindo os poderosos e o povo dos santos ... ele deve também se erguer contra o príncipe dos príncipes "(Daniel 8:24-25).

O autor do Apocalipse Gabriel parece estar a interpretar a narrativa bíblica da seguinte forma: Um rei mal se levanta e praticamente destrói o povo judeu, o "povo dos santos." Ele ainda consegue superar e matar seu líder, o "príncipe dos príncipes". Este é o líder que será ressuscitado, em três dias.

Foi o príncipe dos príncipes uma figura histórica? Creio que ele era. A chave para identificar ele está na frase "arubot tzurim", o que vem depois da referência ao príncipe dos Príncipes. Na Bíblia eo Talmud, a palavra "aruba" significa uma abertura estreita ou fenda. "Tzurim" são rochas (a palavra aparece aqui em uma forma subvocalizada, sem a letra vav). "Arubot tzurim" seria, assim, uma fenda. A morte do príncipe dos príncipes é de alguma forma associada com uma abertura rochosa.

O Apocalipse de Gabriel, como já dissemos, foi datado, com base em lingüística e ortografia, no final do primeiro século a.C. (antes de Cristo). As circunstâncias que envolveram a descoberta da inscrição são desconhecidas. Tudo que somos informados pelos editores é que ele pode ter sido descoberto na Transjordânia. Isto nos leva a Transjordânia ainda no final do primeiro século a.C. Não sabemos de nenhum líder judeu ou rei que foi morto na Antiguidade e cuja morte tenha algum tipo de conexão a um desfiladeiro rochoso?

A revolta em 4 a.C. consistiu-se numa ânsia de liberdade. Os rebeldes tentaram vencer o jugo da monarquia Herodiana, que gozava do apoio dos Romanos. A insurreição, que começou em Jerusalém, e espalhada por todo o país, teve vários líderes. Um estudo de ambas as fontes judaicas e romanas mostra que o mais destacado deles foi Simon, que operava a partir de Transjordânia. Simon declarou-se rei, usava uma coroa, e foi percebido como rei pelos seus seguidores, o que pendia sobre ele a esperança messiânica.

Esta é a forma como historiador do primeiro século judeu Josephus (Flávio Josefo) descreve a morte de Simon em combate: "O próprio Simon, esforçando-se para escapar de uma ravina íngreme, foi interceptado pela Gratus [um comandante do exército de Herodes], que atingiu o fugitivo de lado com um golpe no pescoço, que cortada a cabeça de seu corpo". Com a sua referência a uma fenda rochosa e o príncipe dos príncipes, o texto parece estar aludindo à morte de Simon, o líder rebelde que foi coroado rei, em um estreito desfiladeiro em Transjordânia.

Carruagem para o céu

Mas o Gabriel de Apocalipse menciona também outras mortes. Na linha 57, encontramos a frase "barragem tvuhey yerushalayim" ("o sangue dos mortos de Jerusalém"). A linha 67 diz: "Ei Baser al barragem zu hamerkava shelahen" ( "Diga-lhe sobre o sangue. Esta é a sua Merkava [celeste carruagem]"). A mensagem a ser transmitida é a de que o sangue das pessoas que foram mortas tornar-se-á sua "carruagem" para o céu.

Pairando no fundo, é claro, está a história de Elias da ascensão ao céu: "Eis, parecia existir uma carruagem de fogo, e cavalos de fogo ... e Elias subiu ao céu em um redemoinho" (II Reis 2:11 ).

Simon, o príncipe dos príncipes, foi o líder messiânico de um grupo ativo na Transjordânia. O Apocalipse de Gabriel aparece, portanto, ter sido escrito por seus seguidores, e reflete uma tentativa de lidar com o fracasso da revolta e da morte do seu líder, lembrando os versículos do Livro de Daniel que incorporam as palavras do arcanjo.

O "rei da feroz semblante" é identificado como o imperador romano Augusto, cujo exército brutalmente reprimia a revolta. Simon, o líder rebelde consagrado rei, é identificado como o príncipe dos príncipes. O assassinato de Simon por partidários do rei do mal é interpretado como um cumprimento da visão de Gabriel. Afinal de contas, Gabriel profetizou que o rei de feroz semblante iria contra o príncipe dos príncipes. "Mas ele deve ser quebrado sem mão alguma", o versículo continua. A implicação é que com a morte do líder messiânico, os seus problemas estão para chegar ao fim: A queda do inimigo e salvação estão próximos. "Leshloshet Yamin tayda ki-nishbar hara melifnay hatzedek" ("Em três dias você vai saber que o mal será derrotado pela justiça"), lemos em linhas 19-21.

Se o Apocalipse Gabriel data para o final do primeiro século a.C., como já foi afirmado, em seguida, durante este período, que foi próximo ao tempo do nascimento de Jesus, havia pessoas que acreditavam que a morte do messias foi uma parte integrante do processo de salvação. Tornou-se um artigo de fé que o líder messiânico morto seria ressuscitada no prazo de três dias, e subir ao céu em uma carruagem.

O Apocalipse de Gabriel confirma assim a minha tese de que a crença em um salin e messias ressuscitado existiam antes da atividade messiânica de Jesus. A publicação deste texto é extremamente importante. Trata-se de uma descoberta que apela a uma reavaliação completa de todos os anteriores estudos acadêmicos sobre o tema do messianismo, tanto judaico como cristão.

Israel Knohl é Yehezkel Kaufmann professor de Estudos Bíblicos na Universidade Hebraica de Jerusalém e um investigador sénior no Instituto Shalom Hartman.