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terça-feira, 1 de abril de 2008

DEZ MOTIVOS PARA DUVIDAR DA VERACIDADE HISTÓRICA DOS EVANGELHOS BÍBLICOS

DEZ MOTIVOS PARA DUVIDAR DA VERACIDADE HISTÓRICA DOS EVANGELHOS BÍBLICOS

de: Charles Coffer Jr.


1. Folclore tradicional. Desde a época dos acontecimentos históricos (30 d.C) até a redação (70 d.C.), a lembrança dos fatos ocorridos só sobreviveu de forma coletiva através da Tradição Oral, a qual, por sua própria natureza fluída e maleável, permite constantes reformulações, se transformando de acordo com o imaginário popular, se fragmentando ou mesmo se perdendo, ao ponto de se adaptar ou mesmo cada vez mais se aperfeiçoar, cumprindo com as exigências e necessidades do contexto social e das circunstancias.

2. Concepções anacrônicas da igreja primitiva refletivas na tradição oral recebida. Os relatos evangelísticos estão impregnados das concepções anacrônicas da igreja primitiva, as quais, na maior parte das vezes, não correspondem aos fatos históricos relembrados e muito menos possuindo qualquer núcleo histórico. De fato, a maior parte do conteúdo das tradições orais foi formulada a partir do kerigma da morte de Jesus – acontecimento que deu origem a um oceano de reflexões e uma revolução no pensamento cristão e na concepção sobre Jesus. A morte de Jesus redirecionou a atenção dos primeiros discípulos da mensagem e da vida de Jesus para o significado de sua morte e suposta ressurreição – transformando uma religião que tinha como foco a mensagem do advento do Reino de Deus para uma religião que cultua a personalidade transcendental de um ser deificado.

3. Criações redacionais. Os relatos evangelísticos estão impregnados das concepções anacrônicas adquiridas na fase redacional, de modo que mais refletem as concepções teológicas de seus autores, ficando evidente que os mesmos cuidaram de lapidar a tradição recebida (já alterada) para que as mesmas se adequassem aos seus fins, chegando até mesmo a criar relatos fictícios e/ou idéias sobre Jesus que acordo com suas próprias concepções.

4. Concepções anacrônicas da igreja primitiva refletivas na redação. Os próprios redatores dos evangelhos cuidaram de embutir em seus relatos as concepções contemporâneas da(s) comunidade(s) da(s) qual(s) o mesmo fazia parte, e assim muitas vezes colocando na boca de Jesus palavras criadas posteriormente pela igreja, e acrescentando detalhes da vida de Jesus que se adequavam a concepção que tinham dele – sendo estes muitas vezes detalhes inéditos. Todo o Novo Testamento reflete a concepção da igreja mais do que as próprias concepções de Jesus de Nazaré.

5. Multiplicidade e divergências teológicas. O Novo Testamento, se analisado não como uma unidade orgânica, mas como uma coletânea de documentos únicos e autônomos – tendo cada um o seu próprio contexto social, político e teológico distintos – apresenta uma série de concepções teológicas divergentes e irreconciliáveis, cada uma correspondendo às respectivas idiossincrasias de cada autor.


6. Evolução progressiva do imaginário teológico. Ao detectar blocos/textos que contenham elementos anteriores aos demais e ao analisarmos comparando-os com aqueles que contem elementos posteriores (que correspondem a um período mais avançado), percebe-se grandes saltos progressivos, cada um maior que o outro, nas concepções imaginárias e teológicas característica de cada bloco/texto. O que sugere uma evolução e um desenvolvimento cada vez mais acentuado para o rumo de uma complexidade maior e mais avançado sobre a idéia de Cristo e na teologia em si.

7. Contradições históricas e geográficas. Os relatos evangélicos contradizem na maior parte das vezes dados históricos e/ou geográficos já conhecidos, deixando transparecer assim o escasso e incompleto conhecimento de um autor posterior acerca da narrativa que apresenta.

8. Contradições internas. Os relatos evangélicos se contradizem mutua e consistentemente, cada um acrescentando, modificando ou omitindo o que bem entende por diversos motivos – principalmente de ordem teológica.

9. Manipulação sinóptica. Sendo que os evangelhos de Lucas e de Mateus (de também o de João) tinham e usaram o evangelho de Marcos na composição de suas narrativas, o fizeram ao mesmo tempo em que distorciam, omitiam, lapidavam e embelezavam os relatos de sua fonte – por motivos que vão desde constrangimentos até divergências de opiniões teológicas e cristológicas.

10. Núcleo histórico comprometido. O núcleo histórico, ainda que existente nas partes mais profundas da tradição oral recebida pelos evangelistas, se encontra fragmentado e bastante desgastado, sendo esta a principal dificuldade na busca do Jesus Histórico.

Fontes:


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