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sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Evidências arqueológicas que desmentem as Sagradas Escrituras (Parte 1)

Arqueologia contemporânea e a Conquista de Canaã:
Evidências arqueológicas que desmentem as Sagradas Escrituras


Charles Coffer Jr.

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Em uma investigação histórica, qualquer que seja o fenômeno em estudo, a análise e a interpretação das fontes são os procedimentos fundamentais para a compreensão e explicação da estrutura e funcionamento das entidades sócio-culturais que produziram essas fontes. Ordenamento social, interesses econômicos, idéias e ideologias, influências externas e todos os fatos e fenômenos históricos influenciam sua conformação e desenvolvimento.

O primeiro passo dessa metodologia é a revisão exaustiva das fontes, processo que recebe a denominação de “crítica de fontes”, estabelecendo sua veracidade, contemplando seu caráter primário ou secundário e estabelecendo o contexto histórico das mesmas.

É no âmbito da história antiga, especificamente na história do Oriente Próximo, onde durante a maior parte do século XX se deixaram de lado essas premissas fundamentais de toda investigação histórica moderna. A aceitação preconcebida e utilização da literatura bíblica do Antigo Testamento como fonte confiável em seus relatos, com o propósito de descrever os aspectos sociais, políticos e econômicos do Israel na antiga a Palestina, é onde fica patente essa falência metodológica, em que os investigadores-arqueólogos foram incapazes de desenvolver uma perspectiva crítica, que integre os dados lingüístico-textuais e arqueológicos em uma síntese histórica depurada de elementos alheios ao âmbito da investigação arqueológico-histórica.

Foi nesse contexto que muitos arqueólogos, motivados pelo desejo cego de provar a confiabilidade da Bíblia de uma forma ou de outra – mas já as tomando como certas a a priori – começaram a interpretar os achados arqueológicos de acordo com os relatos da Bíblia e, desse modo, tiraram toda a autonomia da arqueologia ao submetê-la a literatura bíblica sagrada. Dessa forma, a Bíblia, que deveria ser confirmada pela arqueologia, se tornou o critério para se confirmar a arqueologia, sendo a primeira teria total a prioridade sobre a segunda.

São precisamente estes elementos, de grande peso até em nossos dias, como é a fé judaico-cristã e a influência sócio-cultural dos escritos bíblicos, além das necessidades político-territoriais do moderno estado do Israel, que condicionaram no público geral e em boa parte do mundo acadêmico, uma visão equivocada da história das sociedades do Oriente Próximo entre a tardia idade de Bronze e a finalização da Idade de Ferro (1550-540 a.C.).

Erros de interpretação, fraudes, equívocos e falta de compreensão se tornaram sinônimo de evidência arqueológica, e a cada nova descoberta arqueológica, mais a fé cristã era confirmada e alicerçada sobre falsos alicerces.

Atualmente, esse quadro vem mudando. A precisão metodológica tem retornado para o seio da pesquisa acadêmica da arqueologia.

gora, o quadro se inverteu: ao invés da Bíblia confirmar a descoberta arqueológica (que passaria a ser interpretada de acordo com o texto bíblico, o qual já havia sido tomado, a priori, como confiável), as descobertas arqueológicas passaram a ser o critério externo da confiabilidade (ou falta) da Bíblia. A Bíblia, como qualquer fonte histórica, não pode ser tomada presumidamente como confiável.

Esta nova perspectiva tem suas raízes na “Nova Arqueologia”, que desde aproximadamente os anos de 1970 vem revolucionando a arqueologia na Palestina, graças a um novo paradigma que põe ênfase na multidisciplinaridade, fazendo desta disciplina um trabalho conjunto de diversas áreas das ciências, como Botânica, zoologia, crítica literária, antropologia, história, geologia, etc.
De acordo com essa nova visão da arqueologia, as descobertas arqueológicas, longe de confirmar os relatos bíblicos, propõem aos cristãos e ao público em geral a realizarem uma nova leitura da Bíblia. Não mais uma leitura ingênua e acrítica dos textos bíblicos, mas uma leitura histórica, dotada das mais recentes análises e evidências arqueológicas.

Este trabalho apresenta algumas das análises e descobertas arqueológicas que não apenas se calam diante de supostos acontecimentos narrados nas páginas da Bíblia Sagrada, mas que chegam até mesmo a contradizer relatos bíblicos, como os da “Conquista”, comprovando que a Bíblia é uma redação que não contém um testemunho contemporâneo dos acontecimentos que descreve e que na realidade reflete as idéias e interesses de um grupo religioso e político de um período posterior, já depois da queda de Israel (720 a.C.) ou pós-exílico (587 a.C.).

Com este trabalho se pretende examinar as contribuições de Israel Finkelstein e Neil Asher Silberman, que recentemente têm publicado um estudo muito interessante sobre este tema. Todos estes trabalhos foram traduzidos na língua portuguesa nos últimos anos.

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